A falta de fiscalização e alternativas seguras no transporte intermunicipal e interestadual tem levado passageiros do Noroeste de Minas Gerais a recorrerem, cada vez mais, a serviços irregulares de carona negociados por meio de grupos no WhatsApp. Motoristas sem qualquer credenciamento junto aos órgãos de trânsito, com veículos muitas vezes em más condições e documentação vencida, estão operando rotas clandestinas entre os municípios de Riachinho, Bonfinópolis de Minas e Urucuia com destino a Brasília, em percursos que ultrapassam 300 km de distância.
A reportagem entrou em contato com um dos motoristas que oferece regularmente viagens de Riachinho a Brasília, com valores equivalentes aos cobrados por empresas de transporte interestadual regulamentadas. Segundo ele, as saídas são organizadas diretamente pelos aplicativos de mensagem e, mesmo sem autorização, os veículos seguem lotados. “Todo dia tem gente precisando ir para Brasília. Sai mais barato, e o pessoal prefere, porque não tem muita opção”, afirmou o condutor, que não apresentou licença para atuar no transporte remunerado de passageiros.
Apesar de populares entre moradores da região, os chamados “piratas” representam um risco altíssimo para quem precisa se deslocar entre as cidades. Com revisões irregulares, falta de seguro adequado e motoristas sem formação específica, situações como panes mecânicas, acidentes e falta de assistência são constantes. Em casos extremos, passageiros podem enfrentar até mesmo situações de abandono em meio à rodovia, sem apoio das autoridades.
Moradores relatam que a fiscalização praticamente inexiste na região. Trechos da BRs 251 e 020 e das MGs 202 e 181, usados como principais vias dessas rotas clandestinas, são conhecidos pela ausência de operações regulares da Polícia Rodoviária e de equipes de inspeção da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por coibir o transporte interestadual ilegal.
“Já vi carro com pneu careca fazendo viagem cheia até Brasília. É perigoso, mas a gente precisa ir, e não tem ônibus todo dia”, conta uma passageira de Urucuia, que prefere não se identificar. Segundo ela, a alternativa formal muitas vezes não atende à demanda local, e horários restritos obrigam muitos a optarem pelo transporte clandestino.
Além dos riscos para passageiros, quem também sofre com a proliferação do transporte irregular são os taxistas devidamente regulamentados. Profissionais que possuem licenciamento e pagam impostos para atuar dentro da lei denunciam prejuízos constantes diante da concorrência desleal. “A gente tenta trabalhar certo, pagando tudo em dia, mas não tem como competir com esses carros clandestinos. Muitos colegas já desistiram da profissão porque não dá mais lucro”, afirma um taxista de Bonfinópolis de Minas, que também pediu para não ser identificado, temendo represálias.
O problema, que avança sem controle, contraria dispositivos como o Decreto Estadual nº 48.121/2021, que regulamenta o serviço de transporte fretado em Minas Gerais e estabelece normas para a circulação de veículos e a segurança dos passageiros. No entanto, sem fiscalização efetiva no Noroeste do estado, a legislação tem ficado apenas no papel, enquanto a população segue exposta a riscos diários nas estradas.
Procurada pela reportagem, a ANTT e a Polícia Rodoviária de Minas Gerais não respondeu até o fechamento desta edição.